POR QUE ENTRASTE EM MEU SONHO À NOITE PASSADA?




Deus tocou novamente meu coração,

num alaúde cósmico trouxe as vozes

da babilônia e do cerrado.

Bem cedo os ventos molhados

fizeram tranças nos cabelos da aurora,

atravessaram as fumaças míopes,

descascaram com as unhas os olhos da lua.

Buscavam a música da agonia.

A lua é uma rainha que nasceu das lágrimas de Deus.

A caverna de Platão apareceu-me em sonho.

No sonho, a vida sofria o desaparecimento

da mulher invicta, num movimento estrangeiro.

Ela abraçou meus dentes,

colocou-os em seu ninho de agonia e seguiu,

tornou-se o esplêndido avesso da sombra da razão.

Do lado minguante do meu cérebro,

mergulhava sobre trilhos de sangue

uma locomotiva tuberculosa,

deixando um clarão de tosse a cada segundo.

As lágrimas encantadoras emudeciam a contra-hora do calor do dia.

Deus tocou os trilhos, o trem das minhas veias,

desgovernou meu espírito, tatuou inteira a minha alma.

Ando sob fagulhas, subo a rua amarela em direção à casa das angústias.

Os postes são polvos com tentáculos incandescentes.

Acima, vem um céu prestes a desmoronar.

As luzes acabaram de assassinar o crepúsculo,

há uma garoa de sangue profanando

a fúria de toda iluminação,

o olfato das pedras enchem os poros de água.

É difícil caminhar encharcado de delírios,

com esse Deus insistindo em se revelar.

Edmir Carvalho Bezerra

Share:

0 $type={blogger}:

Postar um comentário