SUBLIME

 SUBLIME












Meu pai, esse meu destino de ter asas?
esse balaio torto de carregar vazios,
tua grande cerca em volta de mim,
mil páginas se incendiando,
fagulhas falantes espreitando meu rosto...
Que saudade desse lugar sem tantas luzes!
Tuas canções, as
únicas aves a me doarem sossego.
Desde a gênese das tuas mãos,
do teu cheiro triste,
sou uma escuridão arrebatada
para dentro de alucinações.
Quando não se calam as rebeldias,
persigo teu frágil sorriso,
desacato teus olhos palavra por palavra,
para construir teu coração no meu.
Quando, meu pai, envelheceste ao extremo,
de tuas unhas arruinadas acendiam memórias,
tua pele falava dos afagos de um rio,
tuas vértebras fraturadas pela devoção ao tempo,
tua cabeça recostada em fantasmas
me luziam, mordiam meus sóis.
Permaneceste como um dragão invencível
a quem nenhuma noite derrotou.
E permaneces...
Edmir Carvalho Bezerra
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