Amenophis I contava o tempo
com relógios d'água
Babilônia incendiou-se
nas badaladas do meio-dia
clepsidras marcavam tragédias gregas
ampulhetas têm lágrimas de areia
do deserto de Saara
Galileu está cego para vê as horas
Jesus Cristo de tão pobre
não possuía relógio
andava perdido no tempo
após três horas de aflição
deu o último suspiro
relógios marcam tragédias
chineses difundiram a horologia solar
melhor que o sol é seu espectro peregrino
o relógio acelera as estações
o relojoeiro pinga gotas de diazepan
sobre rubis perfurados
molas helicoidais
outrora eram coração
o relógio precisa de sangue
as horas de tragédias
tic-tac arrastado
relógio com febre
em observação
o relógio sofre de amor
as horas não passam
atraso
o calendário não avança
vigésimo terceiro dia
não chega a hora da menstruação
outrora relógios eram precisos
marcavam sonhos
sorrisos
preocupações
encontros
ausências
analógicos
automáticos
atômicos
corda
coração
torres
catedrais
estações de trens
terminais
pararam de narrar acenos de despedidas
não procuram a hora exata das tragédias
água
terra
pedra
sol
pêndulo
pulso
parede
ponto
bolso
corda
ponteiro
quartzo
césio
luxo
coração
relógios deixaram de ser precisos
Edmir Carvalho Bezerra
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